sexta-feira, 27 de junho de 2008

Bafômetro da polícia flagra álcool até de antisséptico bucal

O motorista que usar o produto de higiene bucal Listerine precisa esperar cerca de dez minutos para pegar o carro, se não quiser correr o risco de ser flagrado no bafômetro e acabar preso durante blitz. Outra alternativa é limpar a boca com água antes de fazer o teste. Nesta quinta-feira, o repórter do jornal "Diário de S.Paulo" fez o bochecho com o Listerine e soprou o bafômetro eletrônico. O aparelho acusou a presença de 0,94 mg/l (miligrama de álcool por litro de ar expelido), ou seja, um índice três vezes superior ao 0,3 mg/l previsto na lei, que já leva o infrator a ser preso em flagrante.

Dez minutos depois, a presença do álcool na corrente respiratória do repórter caiu para 0,06 mg/l, quantidade de álcool inferior ao índice mínimo de 0,1 mg/l exigido para o motorista ser multado em R$ 955 e perder o direito de dirigir por um ano (carteira é suspensa).

Em seguida, o motorista do jornal também usou o Listerine, e o bafômetro indicou 1,55 mg/l de álcool no ar expirado. Esse volume é cinco vezes maior do que basta para ser detido em uma blitz da Polícia Militar. Dez minutos depois, o motorista já estava sem qualquer índice de álcool na expiração.

O uso de remédios com álcool na composição ou comer sobremesas que tenham álcool (como rum ou licor) também podem ser suficientes para ser flagrado no aparelho.

De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Alberto Sabbag, a boca precisa estar limpa para fazer o teste do bafômetro.

- Se pingar uma gota de álcool na boca, vai acusar a presença de álcool, porque o aparelho é sensível - alerta.

Segundo Sabbag, nesses casos, o policial deve pedir ao motorista para fazer um gargarejo com água, e depois aplicar o teste.

- Isso se contorna com facilidade, apenas com uma garrafa de água mineral. A intenção é verificar o ar expirado do pulmão, para ver o índice de álcool que está no sangue, e não na boca - afirmou o médico.

Ele ressaltou que é importante o policial perguntar se o motorista está com a boca limpa, antes de usar o bafômetro.

O tenente do 34º Batalhão da Polícia Militar Sérgio Marques, que coordena operações do policiamento de trânsito, afirmou que, se um motorista declara ter usado remédio ou antisséptico com álcool, os policiais são orientados a esperar 15 minutos para refazer o teste.

- Esse tempo é o suficiente. Mas todo cidadão tem direito à defesa e pode provar, inclusive em um exame de sangue, que não ingeriu bebida alcoólica - explica o tenente Marques.

Fabricante diz que produto não oferece perigo no trânsito
A Johnson & Johnson, empresa que fabrica o antisséptico bucal Listerine, afirmou que a fórmula do produto contém álcool de grau farmacêutico puro, encontrado em outros antissépticos bucais e medicamentos homeopáticos. De acordo com a fabricante, o Listerine não apresenta qualquer perigo à segurança do trânsito, quando utilizado de acordo com o rótulo do produto.

Segundo a Johnson & Johnson, a fórmula dos antissépticos bucais Listerine está no mercado internacional há mais de 125 anos, e obedece a todas as exigências dos órgãos reguladores de saúde, com segurança comprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outras entidades nacionais e internacionais, como a American Dental Association (ADA) e a Food and Drug Administration (FDA).

O dentista Anderson Bernal, especializado em dentística restauradora (estética dental), afirma que, atualmente, cerca de 50% dos antissépticos bucais existentes no mercado usam álcool na composição.

- Mas está crescendo o número de antissépticos sem álcool, porque o álcool mata a bactéria mas também desidrata a mucosa da boca, o que pode causar fungo - disse o dentista.

Para o presidente da Associação Paulista de Homeopatia (APH), Ariovaldo Ribeiro Filho, os pacientes que usam remédios com álcool não serão confundidos com bêbados.

- Três a cinco gotas não farão diferença, a não ser que o teste do bafômetro ocorra logo em seguida.

Fonte: O Globo Online de 27/06

Nenhum comentário: